segunda-feira, 22 de setembro de 2008

pouco me lixando

meu verso é lixo
e recolho pelo chão da sala
pelo piso da cozinha, atrás dos móveis
por debaixo dos tapetes
em meio a restos de tão pouco
montanhas e mais montanhas de ainda menos
nas prateleiras não há nada, leve o quanto quiser.
minha rua é um deserto
a vizinhança é o meu peito aberto
cravado de balas e migalhas de biscoito
estou sempre convidado a beber meu chá das oito
que às cinco é outra droga, algum esterco tipo oriental
e das seis às sete pratico yôga e me perco no quintal.
eu sou meu próprio eco, meu reflexo no espelho
é quando a deus mais me assemelho
eu sou meu lar
doce e amargo endereço, qualquer lugar
sou eu mesmo a qualquer preço
respiro meu próprio ar
eu sou meus versos, sou todos os meus lados
meus passados passos reciclados
-prazer, me chamam rodrigo!
eu sou tudo que trago comigo
e não descarto por puro romantismo.
sou mesmo isso
sou meu mais nobre e repugnante monte de lixo.

© rodrigo mebs

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

umbigo



umbigo:
entremeio obscuro
furo
entre fenda e seios
senda
da sua libido
vereda
em que passeiam
língua e dedos
orifício
que permeia
o desejo
poço
a um passo
de meu sexo


valéria tarelho
publicado no Livro da Tribo 2005 pgs. 170/171
ilustração de José Carlos Martinêz,
especialmente para a agenda

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

storyboard

No lado de dentro
Teus dedos diretos
Em movimentos macios
Eretos como falo
Em contato com o rio
Fluente alvo que verte
E vadio se diverte
Quando escancaro
Na tua boca
(entre as coxas)
as pequenas fendas
Em rendas e labaredas
Para que me metas
Apenas o que eu mereça...


© Sandra Regina

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

noturno


imagem: "emptiness" © tom persinger

eu
adepta dos venenos
(lentos-letais)
dos 'poemácidos'
alucinógenos

eu das carnes cruas
das palavras acres
das idéias kamikazes

eu e meu
harakiri
de araque

eu talvezquemsabe
dust in the wind
cheirando a pó
eau de álcool & tabaco

eu (aquela)
de nós cegos
do (só meu)
desassossego
da sua (evi[l]dente)
sequela

eu
dos vôos solos
na boléia
brindando a boemia

em co[r]pos de geléia


valéria tarelho

segunda-feira, 8 de setembro de 2008



Ela chegou quando outubro se foi
adentrando a estação do suor ofegante
Ela chegou molhada com aroma de pérolas de pétalas de plumas
os peitos arfantes
as pernas à mostra
os olhos de um verde duvidoso
os cabelos de fogo
os cabelos...
Ela chegou muda
do avesso um mutante
personagem estonteante de uma obra de ficção
(lembrem-se: era outra estação)
Eu o eterno prolixo
ironizei aquela modernidade
e averso à mudanças
parti


sidnei olivio